segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Cigarro com o presidente

Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez comentários inadequados sobre a proibição do fumo em ambientes fechados. Esse tipo de declaração, que infelizmente é comum em conversas informais, pode prejudicar a condução das políticas de combate ao tabagismo, pois foram feitas pelo principal homem público do país. No que concerne especificamente à fala do presidente, entende-se que assumir, diante da imprensa, que mantém um hábito prejudicial à saúde só não é pior que defendê-lo, especialmente no exercício do cargo de principal líder do executivo brasileiro.

Interessante –e triste – é notar a contradição entre as ações desenvolvidas pelo governo, principalmente através do Ministério da Saúde (MS), e as palavras do presidente. Entre outras ações, foi com Lula que o Brasil assinou a Convenção Quadro para o Controle do Tabaco, da Organização Mundial da Saúde. Também foi em sua gestão que o MS reforçou as estratégias de prevenção, com campanhas mais incisivas e imagens mais fortes nos maços de cigarro. Em meio a avanços importantes, é preciso cuidado para que, por erros políticos, não haja retrocessos. Parece que, de forma inédita, avançamos na prática e regredimos na retórica, que de qualquer forma tem sua importância, principalmente no que diz respeito à educação dos cidadãos brasileiros.

Neste sentido, seria de grande valia um pedido público de desculpas pela forma inadequada de se expressar, por parte do presidente. Tal ação, que demonstra a grandeza pessoal de quem assume erros, serviria até para evitar que interesses políticos menores coloquem em risco a adoção de novas medidas para combate do tabagismo e, principalmente, a manutenção dos avanços já conquistados. Como presidente, Lula não deveria fumar em público - nem falar - o que bem entender.

Analice Gigliotti
Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas